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Luciana Cocozza

Convivendo com a ansiedade

Olá, me chamo Luciana, sou psicóloga e convivo com crises de ansiedade. A ansiedade não é tudo o que sou, mas ela ocupa uma boa parte de mim e diz muito sobre como me comporto. Quem vos falará neste texto, não é a Luciana psicóloga, mas sim  a Luciana ser humano, com suas dores, lutas e superações.

Fui diagnósticada com sindrome do pânico quando estava no sétimo período da graduação em psicologia. Foi uma fase paralisante da minha vida. Sai do estágio, fiquei umas duas semanas sem ir na faculdade… Na verdade sem sair de casa, tinha medo de ir ao portão. Ficar sozinha era impossível… Fiquei completamente dependente de alguém do meu lado. Tinha medo de morrer, achava que estava enlouquecendo... Cheguei a pesar 46 quilos, pois tinha medo de me alimentar e morrer engasgada com o alimento.

Sempre fui uma pessoa focada, que lutava pelos seus sonhos e objetivos de vida. Mas, naquela epóca perdi meu foco, minha alegria, minha paz. Foi difícil entender o que estava acontecendo, passei por vários médicos e sim, neguei que pudesse ser algo emocional. As sensações fisícas eram tão fortes que realmente acreditava que estava com algum problema físico. Mas na verdade era a ansiedade tomando conta da minha vida.

Eu e minha família logo buscamos ajuda: fiz acompanhamento com psiquiatra, psicólogo e cuidei do meu lado espiritual. Naquela época não consegui colocar em prática nenhum esporte, não tinha tempo, não encaixava… Mas logo que me formei comecei a preocupar com o corpo também, pois sei que praticar atividade fisica é primordial para quem sofre de ansiedade.

Se alguém me dissesse naquela epóca que eu iria me casar e morar em um outro país, jamais acreditaria. Aquela Luciana era marcada pelo medo, por limites que minha própria mente me impunha, mas também por uma vontade enorme de concluir alguns objetivos. Como por exemplo: Me formar. Muitos que sabiam o que eu estava passando, quando me viram tentando seguir, diziam “você é uma guerreira”, não gosto muito dessa expressão, pois por trás de uma “guerreira”, tem sempre uma história de luta, dor e sofrimento... Mas eu entendia o que eles queriam dizer. Foi justamente essa “guerreira”, que me levou ao adoecimento. Não acredito que precisamos passar pela dor para alcansarmos nossos sonhos, eles podem vir sem dor também. Precisamos aprender a respeitar os nossos limites e entender que o nosso corpo fala. E quando ele fala o melhor a se fazer é escutá-lo.

Claro, aprendi muito com essa experiência. Infelizmente foi na dor que aprendi a respeitar meus limites, que não tenho que me preocupar com o que o outro pensa sobre mim, que não estou nesse mundo para atender as expectativas do outro, que não posso abraçar o mundo e querer resolver os problemas de todos... Tenho uma lista das coisas que aprendi e que as vezes me pego deslizando novamente, pois, como ser humano erro. É um processoa de aprende, coloca em prática, esquece e começa novamente. É um ciclo de amor e autocuidado diário.

Como superei a sindrome do Pânico? A ansiedade ela pode ser tratada e foi justamente o que fiz, ou melhor, o que faço. A superação é diária. Graças a Deus, hoje não vivo mais a ansiedade como foi naquele momento, que como mencionado PARALIZOU a minha vida. Sigo com ela, costumo dizer que de mãos dadas, tentando ser boas amigas. Brincadeiras a parte, a psicoterapia teve e têm um papel fundamental no meu processo. Aprender a controlar a ansiedade e deixa-la em niveis “normais”, exige um investimento gigantesco na busca pelo autoconhecimento. É necessário saber os gatilhos que podem eliciar uma crise, qual a função de determinados comportamentos, como aceitar que não é possível controlar todas as situações de nossas vidas e como controlar uma crise de ansiedade antes que ela torne um monstro gigante que me deixava tão impotente.

Hoje têm várias situações que antes me causavam ansiedade que não causam mais. Como por exemplo, falar em público, participar de uma entrevista de emprego etc. É importante esclarecer que a ansiedade “normal” existe sempre, em todos nós, mas no meu caso, era uma ansiedade patológica que me trazia prejuizos. Quantas vezes faltei de aula em dias de apresentações de grupo na univerdade, quantas vezes deixei de ir em uma dinâmica de grupo quando procurava me recolocar no mercado de trabalho, quantas vezes evitei ambientes cheios etc.  

A maternidade hoje tem sido o meu maior desafio. Aceitar que não posso controlar todas as situações é um processo. Sigo vivendo um dia de cada vez. Aprendendo com meus erros, ressignificando minhas dores e enfrentando meus medos.

Finalizo com um carinhoso abraço a todos que assim como eu convive com a ansiedade. Se me permitem meu conselho como alguém que sabe na prática o que significa isso é: Busque ajuda, você não é um fardo e você não está sozinho.

 

Contei tudo isso pra dizer que todos, qualquer pessoa pode ser acometida por algum problema psicológico. Ser psicóloga(o) não nos isenta dessa possibilidade. Nós (psicólogos) também sofremos com os nossos monstros, somos frutos de uma interação social, alteramos e somos alterados pelo ambiente em que vivemos. Nós nos comportamos e sofremos as consequências das nossas decisões. Nos sentimos ansiosos, temos medo, angústia e dor…Vejo uma mudança significativa em relação aos rótulos que cercam meu campo de atuação, como por exemplo: “psicólogo é coisa pra doido”. Mas, ainda temos um longo caminho a percorrer… Vejo que cada vez mais as pessoas estão falando que fazem psicoterapia sem medo.Sigo sendo psicóloga, mãe, esposa, filha e ocupando todos os papéis que me cabem nessa sociedade.  Um forte abraço!

Luciana Cocozza

Luciana Cocozza
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